E quando eu cheguei à arena naquela noite, depois que a Chyna morreu – eu estava pensando, O.K., eu só preciso que isso aconteça. Eu preciso que essa quadra seja meu escudo esta noite, eu preciso que essa quadra me ajude a esquecer. Mas quando eu cheguei lá? Cara, foi um daqueles momentos… Eu nem consigo descrever. Os aplausos que recebi, ainda posso ouvi-los. As pessoas tinham esses cartazes, e eu ainda posso vê-los: ISSO É PELA CHYNA. NÓS TE AMAMOS ISAIAH. Esse tipo de coisa. Então eles fizeram um momento de silêncio, toda a arena, em memória da Chyna. E foi tipo… Cara. Percebi naquele momento, que eu não precisava da quadra para me proteger. Eu não precisava bloquear nada e fingir que não estava sofrendo. Eu não precisava estar sozinho. Toda a arena estava ali comigo. Honestamente, eu senti que toda a cidade de Boston estava comigo.
E naquele ponto, eu acho que caiu a ficha, tipo, é claro que eu tenho que jogar. Em primeiro lugar, vou fazer isso pela Chyna e pela minha família. Mas eu também vou fazer isso pela minha cidade. Porque o que eles estão me mostrando agora é tudo que eu precisava esta noite: saber que não estou sozinho. Eles estão me mostrando que estão passando pela mesma coisa pela qual eu estou passando esta noite. Eles estão me mostrando que eu sou um deles, e que nós estamos juntos nisso. Então vamos estar juntos nisso.
E por dois anos e meio, cara, nós estávamos juntos.
Eu só vou dizer isso aqui, para acabar com isso – e daí você pode seguir em frente e publicar isso em qualquer outro lugar que você queira: você não vai querer mexer com o Cavs este ano. Este será um ótimo ano para ser um torcedor do Cavs, um excelente ano. Eu estou animado.
Da perspectiva do basquete, eu e o Cavs fomos feitos um para o outro. Se você assistiu a algum jogo do Celtics, no ano passado, então você sabe quantas vezes eu teria que passar por dobras e até marcações triplas, apenas para conseguir arremessar. Acabou funcionando muito bem para nós – os caras estavam jogando muito bem, e meu arremesso estava caindo. Mas este ano… Cara, nem vai ser um problema. Você realmente vai por três caras para me marcar, quando estou dividindo a quadra com o melhor jogador de basquete do planeta? Eu acho que não.
E esse é só o LeBron. Eu olho para todo o elenco, e só vejo caras com os quais eu mal posso esperar pra jogar junto: Kevin Love (era meu antigo colega de equipe da AAU!), Tristan Thompson, J.R. Smith, Iman Shumpert… Não é nenhum acidente para mim esses caras terem ganhado o Leste por três anos consecutivos. E agora comigo, D. Rose e meu parceiro Jae? Esse elenco, cara, é completo. Fãs dos Cavs, vamos nos preparar para um rock and roll.
Claro, estar na equipe a ser batida no Leste… Eu não vou mentir, são emoções misturadas. Porque esse foi o nosso objetivo em Boston durante muito tempo – passar pelo Cavs e ganhar o Leste. E eu sei que esse ainda é o objetivo em Boston. Porém, agora, é minha responsabilidade impedi-los de completar esse objetivo. E isso é difícil. Porque quando chegar os playoffs, e nós tivermos que enfrentar o Celtics… Eu não sei, é difícil de explicar. Não vai ser apenas o “time em que costumava jogar”. É a minha ex-equipe. O ataque de elite, mais de 30 jogos televisionados, um lugar para o qual os agentes livres queiram vir jogar – eu sinto que ajudei a construir tudo isso. Ajudei a criar essa situação.
E quando chegarem os playoffs, de repente, será tipo: O.K., agora destrua tudo isso.
É triste, cara. É muito triste.
Mas eu não vim para Cleveland para perder.
Como eu disse, quando a notícia da troca saiu, recebi muitas mensagens. SMS, Instagram, Twitter, Voicemail. Estava frenético. Mas uma mensagem, em particular, me chamou a atenção. Foi do Tom Brady.
“E aí, IT, acabei de ouvir a notícia. Você está bem?”
“Eu estou bem. Quero dizer, é uma loucura. O jogo é implacável.”
“Sim, é implacável. Toda a sorte do mundo. Você vai se sair bem. Mantenha contato.”
Não foi o que ele disse, exatamente – embora tenha sido legal por parte dele entrar em contato, sem dúvida. Foi mais por tudo o que significou, eu acho, que essa mensagem mexeu comigo. Receber uma mensagem pessoal assim de alguém como o Tom, que é uma lenda em Boston…quero dizer, foi meio agridoce.
Em primeiro lugar, machucou um pouco. Eu olho para a carreira do Tom com o Patriots – e é exatamente o tipo de carreira que eu esperava construir aqui com o Celtics: ser uma escolha baixa de draft… Chegar sem aclamação… E depois – por meio de trabalho árduo, de determinação, e de algum talento que talvez as pessoas tivessem ignorado – começado a ganhar, e ganhar, e ganhar. E depois estabelecer um legado de vitórias. E daí ficar em Boston, ganhar títulos e competir bastante pelo resto da minha carreira – até que eu fosse considerado um dos grandes de todos os tempos de Boston. Essa é a carreira que eu estava começando a planejar para mim. Em minha mente, queria ser a versão Celtics de Brady e David Ortiz (Big Papi). Eu queria que a próxima era do basquete do Celtics entrasse para a história – e eu queria entrar para a história esportiva de Boston junto. Então, quando recebi esse mensagem do Tom, você sabe, uma parte de mim se sentiu bastante triste.
Mas então eu refleti mais sobre a mensagem… E acho que mudei um pouco a minha perspectiva. Eu meio que entendei, que cara, esse é Tom Fucking Brady. E só estive aqui por dois anos e meio. Tom Brady não está enviando uma mensagem dessas aos caras que jogaram em Boston por apenas dois anos e meio – a menos que eles tenham feito algo muito especial. Então, talvez, eu não sei… Talvez seja um motivo para se orgulhar. E talvez, meu tempo aqui… mesmo que, no fim das contas, não foi exatamente o que eu sonhei que fosse – talvez ainda tenho significado algo para algumas pessoas.
Então, acho que estou desse jeito neste momento. Ainda estou machucado, e ainda estou triste de ir embora. E tenho a certeza de que sentirei falta da minha família Celta por algum tempo. Mas agora eu vou para Cleveland, fazer o que eu faço de melhor. Eu vou me entregar. Pode não ser a carreira com a qual eu sonhei ter no ano passado, ou mesmo no mês passado – mas refletindo sobre isso, essa foi a minha carreira desde o começo. Nunca foi um sonho se tornando realidade e nunca foi o que eu esperava. Foi só eu mesmo.
E talvez essa seja a resposta para tudo isso, entende? Tipo, sim, nunca serei Tom Brady. E eu nunca serei David Ortiz. Eu nunca serei Bill Russell, ou Paul Pierce, ou Kevin Garnett, ou Larry Bird. Mas se isso teria acontecido sem essa troca, ou não teria — eu ainda assim gosto de imaginar uma coisa.
Gosto de imaginar que, daqui a algum tempo, em algum lugar de Boston, alguém vai se tornar um pai ou uma mãe, e conversar sobre basquete com o filho. E a criança vai perguntar, sem rodeios , como as crianças fazem, você sabe, “Ei, por que você se tornou um fã do Celtics?”
E aquele pai ou mãe, cara, vai refletir, realmente pensar nisso. E então ele/ela vai sorrir, e dizer a verdade.
“Eu vi Isaiah Thomas jogar”.
Isso me deixaria muito feliz. Para mim, eu acho, isso seria o suficiente.